Espaço reservado à reflexão sobre questões que nos incomodam e nem sempre tivemos com quem nos aconselhar. Reflete a opinião de quem, embora não seja dono da verdade, se esforça por ser um servo fiel dela. Existe algo que sempre o incomodou e que ainda não encontrou resposta satisfatória? Este é o seu espaço, você poderá perguntar o que quiser e eu lhe direi o que penso, embasado na Bíblia Sagrada. Trazer-lhe a Palavra de Deus e tirar a sua dúvida, ajudando-o (a) a refletir acerca de seu dia-a-dia é o que mais desejo. Você pode usar o espaço "comentários" para enviar suas perguntas ou, se preferir, mande-as via e-mail: pr.sandromarcio@hotmail.com e aguarde a publicação da resposta no blog.
Que Deus nos ajude!

sábado, 31 de dezembro de 2011

Qual o destino daqueles que morrem na Infância?




Em 25 de novembro de 2011, Catiúscia -GO escreveu:
Rev. Sandro:
Sei que ninguém tem direito a salvação e que já nascemos pecadores.
Então se uma criança nasce e não for eleita ela será condenada?
Se um bebê acaba de nascer e por uma fatalidade morre, se não for eleito ele vai pro inferno?
Mas é isso que me incuca... Mesmo sendo uma criança? Que não tem discernimento de nada?
Se for eleito vai pro céu?
Entende minha dúvida?
Reverendo, minha dúvida aumentou quando o pastor, que estava aqui, disse que todas as crianças, morrendo enquanto crianças iriam para o céu...
Minha irmã e eu estávamos conversando sobre esse assunto, e queríamos referências bíblicas sobre tal, por isso recorri ao senhor!

Resposta:
Caty, este assunto é cercado de uma carga emocional muito grande! Por um lado vemos pessoas,  pastores e mesmo igrejas inteiras, afirmando que todas as crianças que falecem são salvas, enquanto tantos outros asseguram que os que morrem na infância só são salvos se forem filhos de salvos; há também aqueles que pensam que só são salvos os que tem condições mentais para aceitar a Cristo como seu senhor e salvador e o fazem de fato; e por último há aqueles que defendem que Deus, pela graça de Cristo, salva a quem Ele quiser! Nem sequer falamos daqueles que adotam a posição de que o sacramento do batismo confere salvação, por sua total falta de coerência com o ensinamento bíblico!

É fácil constatar que, na maioria das vezes, as convicções pessoais se mostram mais fortes do que as próprias evidências disponíveis. Entretanto, devemos sempre lembrar que a Bíblia Sagrada é a nossa única infalível regra de fé e prática, e que fora dela o que temos são apenas opiniões!

Pois bem, de início, temos que reconhecer que não há texto bíblico que afirme, sem sombra de dúvida, que todas as crianças que morrem serão salvas, e nem que ensine claramente que alguma criança foi para o inferno!

O que vemos na Bíblia é a presença do pecado no mundo, após a queda de Adão e Eva e a condição de pecadores herdada por seus filhos, o pecado não é apenas aquilo que fazemos conscientemente, é na verdade uma disposição de espírito contrária a Deus. A Bíblia diz que éramos por natureza filhos da ira! Não pecamos porque pensamos de forma errada, mas pensamos e agimos erradamente porque somos pecadores, desde o nascimento! Assim, a despeito da “carinha de anjo”, toda criança é também um pecador! O que quero dizer é que ninguém tem direito à salvação. Ao nascer, a criança não está isenta do pecado, que faz parte de sua natureza decaída, ela só não é capaz de agir como um adulto o faz, mas, se olharmos com atenção, já podemos perceber manifestações da sua raiva. Tão logo ela possa, vai demonstrar o seu pecado através de ações; pois, assim que cresce um pouquinho, a criança, também mente, engana e até odeia; talvez não com a mesma “habilidade” dos adultos, mas o pecado já está ali!

Romanos 5:12  Portanto, assim como por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado, a morte, assim também a morte passou a todos os homens, porque todos pecaram.
Salmo 51.5  Eu nasci na iniqüidade, e em pecado me concebeu minha mãe.
Salmos 14:3  Todos se extraviaram e juntamente se corromperam; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.
Eclesiastes 7:20  Não há homem justo sobre a terra que faça o bem e que não peque.
Romanos 3:10  como está escrito: Não há justo, nem um sequer,
Romanos 3:12  todos se extraviaram, à uma se fizeram inúteis; não há quem faça o bem, não há nem um sequer.
Romanos 3:23  pois todos pecaram e carecem da glória de Deus,

 Ué?!? Mas, e as palavras de Jesus em Lucas 18:17: “Em verdade vos digo: Quem não receber o reino de Deus como uma criança de maneira alguma entrará nele” e  Mateus 19.14 “Jesus, porém, disse: Deixai os pequeninos, não os embaraceis de vir a mim, porque dos tais é o reino dos céus” ?
Quando Jesus diz que devemos nos tornar como crianças, não quer dizer puros como crianças, pois elas não são puras, e sim que devemos ser confiantes, humildes e aprendizes, como elas são!

E o outro texto mencionado acima, acerca de Jesus e as crianças, trata apenas da bênção do Senhor aos filhos daqueles que nEle crêem, e não estou certo se pode ser extensivo a todas as crianças. Não podemos afirmar com certeza. Creio que chamar uma criança de inocente não seja adequado pois então não seriam pecadoras desde o nascimento como a Bíblia diz e não precisariam de Jesus como seu Salvador!

Não estou afirmando que alguma criança se perde, e sim que, se uma criança é salva, assim o é, tão somente, pelo sacrifício de Cristo em seu favor, e não por alguma virtude que possua! Crianças ou adultos só são salvos pela graça de Cristo, mediante o Seu sacrifício na cruz!

Em João 1. 12 e 13, lemos:   Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, a saber, aos que crêem no seu nome; os quais não nasceram do sangue, nem da vontade da carne, nem da vontade do homem, mas de Deus.

Mas, se a fé e a aceitação consciente é um requisito para a salvação, poderia Deus salvar aqueles que são incapazes de crer?

Creio que sim, pois lemos na Bíblia que o Filho de Deus traz salvação a todo aquele que O aceita como seu Senhor e Salvador, não como uma atitude meramente intelectual, mas como uma reação natural ao novo nascimento que o Espírito Santo promove em nós, conforme João 3.3-8!  Além disso, registra-se nas Escrituras alguns relatos acerca daqueles que, mesmo não podendo ainda exercer a fé, já foram usados, reconhecidos e tratados como servos de Deus! É o caso de Isaque, Sansão, Samuel, Jeremias,  e especialmente de João Batista, que teve um mover especial do Espírito Santo, mesmo antes de nascer, por ocasião da visita de Maria, que estava esperando o Messias, à sua mãe Isabel que o trazia em seu ventre, conforme Lucas 1. 39-45.
Temos também a, já mencionada, palavra de Jesus aos pais crentes que traziam seus filhos para que Ele os abençoasse: “...porque dos tais é o reino dos céus”! São passagens que nos dão segurança para confiar a Ele a vida de nossos pequeninos, mesmo que eles ainda não possam crer.
   
Posto que penso já ter demonstrado que Cristo salva também as criancinhas, podemos afirmar que só os filhos dos salvos que morrem na infância, serão salvos?
Temos algumas evidências bíblicas que demonstram o favor de Deus também para com crianças que nasceram em lares infiéis:

É o caso do menino Abias, filho de Jeroboão, o rei apóstata (I Reis 14. 10-13):
10  portanto, eis que trarei o mal sobre a casa de Jeroboão, e eliminarei de Jeroboão todo e qualquer do sexo masculino, tanto o escravo como o livre, e lançarei fora os descendentes da casa de Jeroboão, como se lança fora o esterco, até que, de todo, ela se acabe.
11  Quem morrer a Jeroboão na cidade, os cães o comerão, e o que morrer no campo aberto, as aves do céu o comerão, porque o SENHOR o disse.
12  Tu, pois, dispõe-te e vai para tua casa; quando puseres os pés na cidade, o menino morrerá.
13  Todo o Israel o pranteará e o sepultará; porque de Jeroboão só este dará entrada em sepultura, porquanto se achou nele coisa boa para com o SENHOR, Deus de Israel, em casa de Jeroboão.

Além disso, se a Bíblia fala sobre salvos de todas as nações, tribos, povos e línguas, e sabemos que muitos grupos étnicos desapareceram sem ter contato com o Evangelho, acaso os seus salvos seriam as sua crianças falecidas, soberanamente eleitas por Cristo?
Apocalipse 7. 9, 10.
9  Depois destas coisas, vi, e eis grande multidão que ninguém podia enumerar, de todas as nações, tribos, povos e línguas, em pé diante do trono e diante do Cordeiro, vestidos de vestiduras brancas, com palmas nas mãos;
10  e clamavam em grande voz, dizendo: Ao nosso Deus, que se assenta no trono, e ao Cordeiro, pertence a salvação.

Podemos afirmar que Deus é soberanamente livre para exercer sua misericórdia sobre quem Ele quiser:
Romanos 9. 15, 16.
15  Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão.
16  Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia.

Portanto, todos nascemos pecadores e mesmo que os bebês,  não possam ainda praticar o ato, o pecado já os acompanha e influencia, desde o nascimento, e, deste modo, ninguém tem o direito à salvação por inocência, seja uma criança pequena ou um adulto, mentalmente incapaz, ou alguem que jamais tenha ouvido o Evangelho. Pois, assim como foi justo que recebêssemos a herança do pecado de nosso representante Adão, é também justo que Cristo nos represente para a salvação, e não podemos afirmar se Ele predestinou ou não todas as crianças ao céu, não temos tanta sabedoria para avaliar o desígnio do Senhor, pois, Deus escolhe e salva a quem lhe apraz! Não há nada na Bíblia que nos proíba de pensar que Ele decidiu salvar a todas as crianças que falecem, bem como a todos os mentalmente incapazes. Entretanto, isto é algo que não podemos afirmar com plena certeza, muito embora fosse este o desejo de nosso coração! Todavia, há na Bíblia Sagrada o pacto de Jesus com os que crêem e com sua família (Josué 24.15; Atos 2.39; Marcos 5.19 e Atos 16.31) e esta esperança bendita é um dos motivos principais para nós que cremos em Jesus e somos batizados, batizarmos também nossos bebês e crermos na sua salvação, não é algo infalível, pois a Bíblia mostra muitos filhos de crentes que se revelaram infiéis, mas cabe a nós educá-los como crentes e confiar suas vidas ao Senhor!

Querida irmã, como posso observar na sua fala, você está correta em dizer que Deus elege aqueles que são seus. A Bíblia afirma que ao Senhor pertence a Salvação (Jonas 2.9; Apocalipse 7.10) e que a fé é um dom de Deus (Efésios 2.8), que ninguém vai ao Pai a não ser por Cristo (João 14.6), e ninguém vai a Cristo, senão for enviado pelo Pai (João 6.37), que Deus nos amou primeiro (I João 4.19), que Deus amou e salvou aos crentes do mundo todo (João 3.16), que o Senhor os elegeu antes da fundação do mundo (Efésios 1.4), não baseado em obras que fariam (Romanos 9.11), mas, tão somente em sua vontade e graça (Efésios 1.5). Contudo, embora possamos saber e crer na nossa própria eleição, visto que jamais creríamos por nosso próprio entendimento, não podemos fazer conjecturas acerca dos outros, sobre quem é ou não eleito para a salvação. 

Caty, há pastores que, categoricamente, afirmam a salvação de todas as crianças! Não acho que isto seja impossível, se Deus assim o quiser! Mas afirmar não é bom, pois como nos norteia um sábio princípio calvinista, é bom falar quando a Bíblia fala e calar quando ela se cala!

Sigamos pregando Evangelho para a salvação dos que crêem, e quanto aos demais que não tem condições mentais para aceitar a Jesus, confiemos na Soberania, na Justiça, no Amor, na Graça e na Sabedoria do nosso Deus! 

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Podemos orar a Jesus e ao Espírito?

Caro Pastor Sandro Marcio.
Gostaria de saber se podemos orar a Jesus e ao Espírito. Muito obrigado!
Silvio Iran Costa Melo


Caro irmão Silvio, a Bíblia ensina que Deus é Pai, Filho e Espírito Santo. Deste modo, não haveria problema algum em fazermos orações a qualquer uma das pessoas de Deus, seja ao Filho, ao Espírito Santo ou ao Pai. Contudo, no modo como Deus decidiu se relacionar conosco, convém reparar que, embora todas as pessoas da Trindade terem sido agentes da criação, o Pai é mormente reconhecido com o nome de Criador, do mesmo modo que mesmo que a Trindade esteja plenamente envolvida em nossa salvação, ao Filho é mais vezes dado o título de Salvador, e da mesma maneira que a Trindade está totalmente empenhada em nosso amparo diário, ao Espírito Santo é que se dá com mais ênfase o nome de Consolador. Isto é o que chamamos de Economia da Trindade, o modo como Deus administra e distribui as funções em Seu Ser. Assim, é mais adequado orar ao Pai, através, ou em nome do Filho e amparado e dirigido pelo Espírito Santo. Lembremos, que como Jesus nos ensina em João 16, o Espírito Santo glorifica o Filho e o Filho glorifica ao Pai; e é bom que seja assim, pois algumas pessoas passaram a cultuar mais o Espírito Santo, tornando o culto mais místico e emocional, e esquecendo do papel da 3ª Pessoa da Trindade, e de que a maior alegria do Consolador não é de ser adorado por nós, e sim de nos conduzir, à adoração ao Pai, através de Jesus Cristo!    

Deste modo, não creio que seja pecado orar a qualquer uma das Pessoas de Deus, pois Deus é um só; mas, se Deus viu por bem estabelecer diferença no modo como estas Pessoas se relacionam conosco, creio que revela maior prudência aquele que acata esta distinção!

Um forte abraço,
Pr. Sandro Márcio

Ps. Se ainda não ficou claro, por favor me avise, que terei prazer em elucidar!



A Paz,
Sou-lhe grato Pastor pela resposta e sua forma didática.
Um forte abraço!
Silvio Iran Costa Melo

domingo, 27 de novembro de 2011

Devemos comemorar o Natal ?


Em nossos dias muitos têm se levantado para questionar e mesmo protestar contra a comemoração do natal. Os argumentos usados são basicamente estes:

- Não sabemos a data exata do nascimento de Jesus;
- A data de 25 de dezembro era usada no paganismo para celebrar o nascimento do sol “deus sol invicto”;
- As árvores de natal têm sua origem na devoção pagã aos espíritos da floresta;
- O natal tem sido apenas uma data de aquecimento do comércio;
- O desvirtuamento do natal com o crescimento da figura do Papai Noel.
- Muitas brigas e mortes têm ocorrido por ocasião das festas de final de ano;
- O natal só serve para exaltar a pessoa de Maria, a mãe do salvador;
- A comemoração mais importante dos cristãos deve ser a páscoa e não o natal;
Estas observações devem ser consideradas para que respondamos a pergunta: Devemos comemorar o Natal?
Primeiramente, vamos tratar acerca da data do natal:
De fato, ninguém sabe ao certo o dia do nascimento de nosso Senhor. Estudiosos acreditam que tenha sido por volta de março ou abril, época em que, devido ao calor, os pastores de Belém passavam a noite ao relento com suas ovelhas, pois se fosse em dezembro o frio não permitiria. E justamente por desconhecermos a data é que os cristãos, anteriores aos estudiosos citados escolheram o 25 de dezembro, como fazemos quando não sabemos a data de certo evento e escolhemos um dia para comemora-lo. O fato de ter havido uma celebração pagã com árvores enfeitadas, associada ao 25 de dezembro, só nos faz reconhecer a grandeza de Deus em ter transformado um dia de enganosa idolatria num dia de louvor a Jesus Cristo. Só haverá problema real se encontrarmos alguém que ainda adore as árvores e não as tenham como mera ornamentação, como fazemos no natal cristão.
Em segundo lugar, vamos falar do comércio, do velho Noel da violência que cerca esta data:
Os comerciantes viram nesta data um potente fator de elevação das vendas e do consumo, criou-se a figura do Papai Noel, baseada no lendário São Nicolau. Os cristãos devem reconhecer que o motivo da sua comemoração vai muito além de comida, bebida e presentes, mas isso não quer dizer que não possam trocar presentes, enfeitar casas e árvores ou se fantasiar de papai Noel. Mas precisam deixar bem claro que tudo isso não passa de uma sadia recreação, que não tem sentido algum se nos desviarem a atenção do verdadeiro aniversariante: Jesus Cristo! Já a violência, conseqüente da bebedeira e dos excessos praticados nessas datas, nem precisamos falar, que um verdadeiro cristão, certamente estará longe destas coisas.
Em terceiro lugar, devemos também ter cautela quanto ao modo como celebramos o natal, para que não estejamos transferindo a glória do filho Jesus à sua mãe Maria, pois, embora tenhamos muito respeito e admiração pela mãe de nosso Senhor, todavia, além do Deus Trino (Pai, Filho e Espírito Santo), não há espaço para mais ninguém na adoração cristã.
E finalmente, embora o momento maior da história cristã não seja o nascimento, e sim a morte e ressurreição do Senhor Jesus Cristo, devemos sim comemorar o Natal, pois, os anjos o comemoraram com um lindo coral, os pastores o comemoraram maravilhados, dias depois os crentes Ana e Simeão no templo adoraram a Deus por haver mandado o Salvador, e mais tarde os magos o celebraram com presentes!
Tendo considerado um a um esses argumentos afirmamos que não só podemos como devemos celebrar com gratidão e alegria o nascimento do nosso Salvador, e desejar a todos:
UM FELIZ NATAL COM JESUS!!!

sábado, 19 de novembro de 2011

Por Que Deus Criou Pessoas, Mesmo Sabendo que Elas se Perderiam?


Em 13/11/2011
Suélia (GO) escreveu:

Pr Sandro,
Creio na bíblia como a Palavra de Deus...
Aceito e até me emociono com a predestinação expressa na bíblia...
Sinto-me infinitamente grata pela graça de Deus que me alcançou...
Adoro a Deus por seus atributos.... inclusive por ser justo.
Tenho questões, mas não afetam a minha confiança nEle.
A minha questão, nesse momento está relacionada à justiça de Deus.
Entendo que Deus não está sendo injusto por condenar ao inferno aqueles a quem ele não predestinou para a vida, pois todos mereciam a morte, e por sua misericórdia escolheu alguns para a vida... não vejo injustiça nesta ação de Deus.
Mas não entendo a justiça de Deus ao formar o homem para perecer eternamente no inferno. Sendo onisciente, sabia que o homem iria para o inferno... então porque o criou? Porque formar vasos pra honra e para desonra?
Com temor a Deus,
Suélia


RESPOSTA em 13/11
Boa noite irmã Suélia, de fato sua questão é bastante inquietante!
De início quero reafirmar meu respeito e afeto pela irmã, principalmente por expor uma dúvida que muitos tem, mas, poucos teriam coragem de declarar. Saliento minha confiança em sua fé e temor a Deus, já demonstrados em outras circunstâncias.

Cara irmã, como você bem expressou, Deus é onisciente e onipotente, portanto, sabia tudo o que haveria de acontecer e sempre teve poder para mudar aquilo que não quisesse que acontecesse, mesmo antes que tudo existisse. Logo, Deus quis criar, não apenas os homens e anjos eleitos, como também, os homens e os anjos que se perderiam. Você disse bem, como você bem frisou (conforme Romanos 9), os vasos de ira, foram feitos por Deus com vistas à perdição, porque Deus quis assim!!!

A grande verdade é que Deus é o escritor da nossa história. E, segundo o seu querer, a história dos homens seria de vilões malvados, covardes e desumanos. Sendo que, em certo momento, alguns daqueles vilões, por um verdadeiro arrependimento de suas vilanias, haveriam de encontrar perdão, através de um Salvador que voluntariamente pagasse por seus crimes, enquanto outros, que persistissem em seus erros, encontrassem o destino merecido.
Alguém poderá dizer, mas porque Ele não escreveu uma história diferente?

Eis aí um mistério, porque o Criador não nos conta porque criou deste e não daquele modo, ou porque a este foi dado e a outro foi negado o entendimento; Ele simplesmente nos revela que quis assim!

E qualquer história que Ele escrevesse poderia nos suscitar igual pergunta.

Creio que a pergunta, que realmente a incomoda é: Isto está direito? É justo isto?
Quando leio um romance composto por um hábil escritor, me pergunto se é justo o final que ele deu aos seus personagens, mas não questiono o seu direito de escrever.
Você já demonstrou que crê na justiça dos destinos eternos: Salvação pela fé em Cristo e perdição pelos pecados cometidos.  
Agora, o que não pode haver dúvidas é sobre o direito de Deus escrever esta ou aquela história, segundo a Sua santa e perfeita vontade!


 O pastor e reformador João Calvino nos ensina desta forma:
“Disso não se segue que possamos detratar a Deus, pelo que nos adiantamos, com o apóstolo Paulo desta maneira: “Quem és tu ó homem para discutires com Deus?! Porventura pode o objeto perguntar a quem o fez: porque me fizeste assim? Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro para desonra?” (Rm 9.20,21). Dirão os oponentes que não se pode defender retamente dessa maneira a justiça de Deus, mas que isso não passa de um subterfúgio próprio daqueles que não tem desculpa satisfatória. Porque se vê que isso não diz nada, exceto que o poder de Deus não pode ser impedido de fazer o que bem lhe parece. Digo que é coisa bem diferente. Pois, Que motivo mais firme e mais forte se poderá apresentar do que nos exortar a que pensemos em quem Deus é? Porque, como poderia cometer alguma iniqüidade aquele que julga o mundo? Se é próprio da sua natureza fazer justiça, ele ama naturalmente essa justiça, e odeia toda iniqüidade. Por isso o apóstolo não procurou nenhum esconderijo, como se estivesse surpreso ou derrotado; mas ele quis mostrar que a justiça de Deus é tão alta e excelente que não deve ser reduzida à medida humana ou ser comprimida pela pequenez do entendimento dos homens. ... Que absurdo há nisso? Gostaríamos que o poder de Deus fosse tão limitado que não conseguisse fazer coisa alguma que o nosso espírito não pudesse compreender?! Digo com Agostinho que Deus criou alguns que ele previu que iriam para a perdição eterna, e que o fez porque quis. Ora, porque ele o quis não significa que nos cabe exigir a razão, visto que não a podemos compreender. E, por outro lado, não se deve discutir se a vontade de Deus é justa ou não; quando se falar sobre a vontade de Deus, esta deve ser entendida como regra infalível da justiça. Como se vai duvidar se há iniquidade, onde a justiça é patente? Intitutas Cap. VIII, Livro 3, pp. 50, 51.

Daí, dizer que, juntamente com a irmã fazemos muito bem em seguir em nossa fé, mesmo sem compreender todos os atos de Deus, pois sabemos que, sendo Ele o Justo e o único Deus, é impossível que cometa alguma injustiça, portanto, creiamos na retidão do Seu agir!   

 Referência Bíblica.
 Salmos 139.
16  Os teus olhos me viram a substância ainda informe, e no teu livro foram escritos todos os meus dias, cada um deles escrito e determinado, quando nem um deles havia ainda.
17 Que preciosos para mim, ó Deus, são os teus pensamentos! E como é grande a soma deles!
18  Se os contasse, excedem os grãos de areia; contaria, contaria, sem jamais chegar ao fim.

Jó 40.
1 Disse mais o SENHOR a Jó:
 Acaso, quem usa de censuras contenderá com o Todo-Poderoso? Quem assim argúi a Deus que responda.
 Então, Jó respondeu ao SENHOR e disse:
 Sou indigno; que te responderia eu? Ponho a mão na minha boca.
 Uma vez falei e não replicarei, aliás, duas vezes, porém não prosseguirei.
 Então, o SENHOR, do meio de um redemoinho, respondeu a Jó:
 Cinge agora os lombos como homem; eu te perguntarei, e tu me responderás.
 Acaso, anularás tu, de fato, o meu juízo? Ou me condenarás, para te justificares?
 Ou tens braço como Deus ou podes trovejar com a voz como ele o faz?
10  Orna-te, pois, de excelência e grandeza, veste-te de majestade e de glória.
11  Derrama as torrentes da tua ira e atenta para todo soberbo e abate-o.
12  Olha para todo soberbo e humilha-o, calca aos pés os perversos no seu lugar.
13  Cobre-os juntamente no pó, encerra-lhes o rosto no sepulcro.
14  Então, também eu confessarei a teu respeito que a tua mão direita te dá vitória.

Isaías 30:18 ¶ Por isso, o SENHOR espera, para ter misericórdia de vós, e se detém, para se compadecer de vós, porque o SENHOR é Deus de justiça; bem-aventurados todos os que nele esperam.

João 17.
6 ¶ Manifestei o teu nome aos homens que me deste do mundo. Eram teus, tu mos confiaste, e eles têm guardado a tua palavra.
 É por eles que eu rogo; não rogo pelo mundo, mas por aqueles que me deste, porque são teus;
11 ¶ Já não estou no mundo, mas eles continuam no mundo, ao passo que eu vou para junto de ti. Pai santo, guarda-os em teu nome, que me deste, para que eles sejam um, assim como nós.
12  Quando eu estava com eles, guardava-os no teu nome, que me deste, e protegi-os, e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição, para que se cumprisse a Escritura.
19  E a favor deles eu me santifico a mim mesmo, para que eles também sejam santificados na verdade.
20 Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da sua palavra;
21  a fim de que todos sejam um; e como és tu, ó Pai, em mim e eu em ti, também sejam eles em nós; para que o mundo creia que tu me enviaste.

Romanos 9.
15  Pois ele diz a Moisés: Terei misericórdia de quem me aprouver ter misericórdia e compadecer-me-ei de quem me aprouver ter compaixão.
16  Assim, pois, não depende de quem quer ou de quem corre, mas de usar Deus a sua misericórdia.
17  Porque a Escritura diz a Faraó: Para isto mesmo te levantei, para mostrar em ti o meu poder e para que o meu nome seja anunciado por toda a terra.
18  Logo, tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz.
19  Tu, porém, me dirás: De que se queixa ele ainda? Pois quem jamais resistiu à sua vontade?
20  Quem és tu, ó homem, para discutires com Deus?! Porventura, pode o objeto perguntar a quem o fez: Por que me fizeste assim?
21  Ou não tem o oleiro direito sobre a massa, para do mesmo barro fazer um vaso para honra e outro, para desonra?
22  Que diremos, pois, se Deus, querendo mostrar a sua ira e dar a conhecer o seu poder, suportou com muita longanimidade os vasos de ira, preparados para a perdição,
23  a fim de que também desse a conhecer as riquezas da sua glória em vasos de misericórdia, que para glória preparou de antemão,
24  os quais somos nós, a quem também chamou, não só dentre os judeus, mas também dentre os gentios?

  Filipenses 4.
 E a paz de Deus, que excede todo o entendimento, guardará o vosso coração e a vossa mente em Cristo Jesus.

Que Deus abençoe, mais e mais!

No temor de Cristo, 
Pr. Sandro Márcio.

Ps.
O que achou da resposta? Foi satisfatória? Não atendeu sua necessidade? Quer que eu a melhore?
Posso postar a sua pergunta e a resposta no meu blog “Responda Pastor”?



Em 16/11, Suélia escreveu:

Pr Sandro,

As suas contribuições para o CompartiCHAT são sempre muito edificantes... é uma pena que não possa participar em real time...rsss.... mas espero suas considerações posteriores...

Sempre gostei muito da sua visão totalmente bíblica sobre os diversos temas que já compartilhamos.... e referente ao último CompartiCHAT que vc não pode participar e enviou um e-mail posteriormente... pra mim, foi muito bom e concluiu bem o assunto. Obrigada!

Uai, pastor, não sei o que aconteceu aki, mas já havia respondido sobre sua resposta à minha pergunta.... mas olhei aki em minhas "enviadas" e realmente não foi enviada a minha resposta.... não sei o que aconteceu. Inclusive, já entrei 2 vezes no seu blog pra ver se vc já tinha postado... mas eu nem tinha respondido....rsssss

Como sempre, gosto muito de sua palavra. Sua resposta à minha questão me proporcionou um entendimento maior da soberania de Deus. Como Deus é soberano!! minha mente limitada não pode compreender todos os seus pensamentos e desígnios, pois são infinitamente mais altos que os meus. Nunca tinha pensado dessa forma em relação à justiça de Deus e à minha dúvida em questão... te agradeço muito, pastor, minha dúvida foi esclarecida e vc pode postar em seu blog.

Que o Senhor continue te dando sabedoria e abençoando juntamente com sua família.
No amor do Pai,
Suélia

domingo, 9 de outubro de 2011

Sobre esta pedra edificarei a minha igreja...


“Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus.  Mateus 16. 18, 19

Pastor Sandro, segundo a sua opinião, qual a melhor interpretação para o texto acima?
Pr. Wagner

Querido pastor,

Existem três interpretações muito defendidas acerca desta passagem.
A primeira e a mais conhecida é aquela argumentada pelo romanismo como sendo a declaração de Jesus como a primazia de Pedro sobre a Igreja e os demais apóstolos, denominando-o vigário, isto é, substituto de Cristo, e o primeiro papa.

A segunda é aquela que aceita a declaração como indicação do apóstolo Pedro como uma  importante pedra do alicerce da igreja primitiva, jamais comparando-o a Cristo, ou exaltando-o acima dos demais apóstolos.

A terceira é a que defende que a pedra sobre a qual Cristo disse que edificaria a Sua igreja, não é o próprio Pedro, e sim a sua declaração anterior acerca de Jesus:



Mateus 16.16  Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.



Quanto à primeira afirmação, podemos dizer que carece de apoio bíblico e histórico, pois nem Pedro foi chamado de vigário de Cristo e nem foi o fundador da igreja de Roma. É sabido que quando o apóstolo Pedro foi para Roma, já havia lá uma comunidade de Cristãos, certamente convertidos no dia de Pentecostes, relatado em Atos 2, e, lembremos que o único substituto (vigário) que Jesus, o Deus Filho, aceitou, como a sua presença permanente entre nós é o Espírito Santo, também conhecido como Deus Espírito.

Por isso foi que Jesus disse: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre,  o Espírito da verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê, nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco e estará em vós”.João 14. 16, 17.


Creio que, podemos aceitar a segunda interpretação como o mais correto e lógico entendimento da passagem, desde que não lhe confiramos uma importância além, que o próprio Pedro jamais desejou, como ele mesmo salientou a Cornélio em Atos 10. 25,26:
“Aconteceu que, indo Pedro a entrar, lhe saiu Cornélio ao encontro e, prostrando-se-lhe aos pés, o adorou.  Mas Pedro o levantou, dizendo: Ergue-te, que eu também sou homem”.

Isto posto não é errado afirmar que foi do agrado do Nosso Senhor chamar e usar homens para fundar a Sua obra evangélica no Novo Testamento, dentre eles Pedro e os demais apóstolos.

Jesus tanto disse de Pedro: “Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela. Dar-te-ei as chaves do reino dos céus; o que ligares na terra terá sido ligado nos céus; e o que desligares na terra terá sido desligado nos céus” (Mateus 16. 18, 19), como aos outros apóstolos ele falou: “Em verdade vos digo que tudo o que ligardes na terra terá sido ligado nos céus, e tudo o que desligardes na terra terá sido desligado nos céus” (Mateus 18.18).

Com isso concordam as palavras de Paulo quando diz sobre os cristãos: Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas  concidadãos  dos Santos e da família de Deus;  edificados  sobre o fundamento dos apóstolos e dos profetas, de que Jesus Cristo é a principal pedra da esquina;  no qual todo o edifício, bem  ajustado, cresce para  templo santo no Senhor,  no qual também vós juntamente sois edificados para morada de Deus no Espírito. Efésios 2.19-22.

Assim vemos a enorme importância que tiveram os apóstolos e os profetas na formação da Igreja Cristã; posição que nenhum homem hoje pode tomar para si. Mas tomemos cuidado para não alçarmos o apóstolo Pedro a uma condição que jamais lhe pertenceu, pois em Mt 16 tanto Jesus chamou a Pedro de pedra de fundação, como logo a seguir o apontou como de pedra de tropeço:

Mateus 16:18  Também eu te digo que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha igreja, e as portas do inferno não prevalecerão contra ela.
Mateus 16:23  Mas Jesus, voltando-se, disse a Pedro: Arreda, Satanás! Tu és para mim pedra de tropeço, porque não cogitas das coisas de Deus, e sim das dos homens.

Veja também que os demais apóstolos, juntamente com Paulo, embora amassem e respeitassem a Pedro, não o tomavam como seu superior e nem mesmo como o detentor da última palavra, como exemplo dou-lhe o primeiro concílio da Igreja em Jerusalém, de Atos 15, onde os apóstolos Paulo e Pedro tiveram fala, mas a decisão final ficou por conta de Tiago, o irmão de Nosso Senhor , que, embora não fosse apóstolo, naquele tempo era o pastor em Jerusalém:

“E toda a multidão silenciou, passando a ouvir a Barnabé e a Paulo, que contavam quantos sinais e prodígios Deus fizera por meio deles entre os gentios. Depois que eles terminaram, falou Tiago, dizendo: Irmãos, atentai nas minhas palavras: expôs Simão como Deus, primeiramente, visitou os gentios, a fim de constituir dentre eles um povo para o seu nome. Conferem com isto as palavras dos profetas, como está escrito: Cumpridas estas coisas, voltarei e reedificarei o tabernáculo caído de Davi; e, levantando-o de suas ruínas, restaurá-lo-ei. Para que os demais homens busquem o Senhor, e também todos os gentios sobre os quais tem sido invocado o meu nome, diz o Senhor, que faz estas coisas conhecidas desde séculos. Pelo que, julgo eu, não devemos perturbar aqueles que, dentre os gentios, se convertem a Deus”. Atos 15. 12-19

Como exemplo mais impressionante da realidade que procuramos demonstrar temos a carta aos Gálatas onde Paulo fala abertamente  do momento em que ele precisou repreender o apóstolo Pedro:
“Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti -lhe face a face, porque se tornara repreensível. Com efeito, antes de chegarem alguns da parte de Tiago, comia com os gentios; quando, porém, chegaram, afastou-se e, por fim, veio a apartar -se, temendo os da circuncisão. E também os demais judeus dissimularam com ele, a ponto de o próprio Barnabé ter-se deixado levar pela dissimulação deles. Quando, porém, vi que não procediam corretamente segundo a verdade do evangelho, disse a Cefas, na presença de todos: se, sendo tu judeu, vives como gentio e não como judeu, por que obrigas os gentios a viverem como judeus?” Gálatas 2:11-14.

Assim sendo, mesmo reafirmando o caráter importante e único dos verdadeiros apóstolos de Cristo na história da Igreja Cristã, jamais poderemos chamar algum deles de “vigário” (substituto) de Cristo. Pois todos somos pedras na Igreja de Cristo, uns mais outros menos importantes, enquanto Jesus é a única Principal e Fundamental Pedra da Sua Igreja.

Leiamos o que Pedro disse de Jesus: “Chegando-vos para ele, a  pedra que vive, rejeitada, sim, pelos homens, mas para com Deus eleita e preciosa,  também vós mesmos, como pedras que vivem, sois edificados casa  espiritual  para serdes sacerdócio santo, a  fim de oferecerdes sacrifícios espirituais agradáveis a Deus por intermédio de Jesus Cristo.  Pois isso está na Escritura: Eis que ponho em Sião uma pedra angular, eleita e preciosa; e quem nela crer não será, de modo algum, envergonhado. Para vós outros, portanto, os que credes, é a preciosidade; mas, para os descrentes, A pedra que os construtores rejeitaram, essa veio a ser a principal pedra, angular” 2 Pedro 2. 4-7.

Temos certa simpatia pela terceira interpretação, que salienta a declaração de Pedro acerca da divindade e da missão de Jesus, que é a nossa confissão de fé. Todavia, necessário se faz reconhecer que não é a interpretação mais natural para a passagem, e que tem como sua força principal a fuga ao erro do romanismo, ao qual não cederemos se nos atermos tão somente ao que a Bíblia ensina acerca dos limites da importância dos apóstolos.

Deste modo, sejamos pedras deste templo espiritual; mas, jamais esqueçamos que Cristo é a incomparável Pedra Principal, à qual ninguém, seja Pedro ou o papa, poderá se igualar ou substituir.

sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Por que Jesus deixou Judas Iscariotes Participar da Ceia?


Em 13 de setembro de 2011, o Pr. Durval perguntou:

Irmão uma coisa que muito me intriga e que não sei se terei resposta aqui, é: Por que Jesus Permitiu que Judas Iscariotes tomasse a Santa Ceia?

Caro Pr. Durval,
De fato é intrigante que o Nosso Senhor tenha permitido que um traidor estivesse com ele à mesa, justamente na Santa Ceia, um momento de necessária contrição e consagração. Isto pode até nos levar a pensar: “ora, se Judas Iscariotes pode, então, todo mundo pode participar da Santa Ceia!”.

Contudo, vejamos se é de fato assim.

Lucas 22.
15  E disse-lhes: Tenho desejado ansiosamente comer convosco esta Páscoa, antes do meu sofrimento.
16  Pois vos digo que nunca mais a comerei, até que ela se cumpra no reino de Deus.
17  E, tomando um cálice, havendo dado graças, disse: Recebei e reparti entre vós;
18  pois vos digo que, de agora em diante, não mais beberei do fruto da videira, até que venha o reino de Deus.
19  E, tomando um pão, tendo dado graças, o partiu e lhes deu, dizendo: Isto é o meu corpo oferecido por vós; fazei isto em memória de mim.
20  Semelhantemente, depois de cear, tomou o cálice, dizendo: Este é o cálice da nova aliança no meu sangue derramado em favor de vós.
21  Todavia, a mão do traidor está comigo à mesa.
22  Porque o Filho do Homem, na verdade, vai segundo o que está determinado, mas ai daquele por intermédio de quem ele está sendo traído!
23  Então, começaram a indagar entre si quem seria, dentre eles, o que estava para fazer isto.

João 13.
18  Não falo a respeito de todos vós, pois eu conheço aqueles que escolhi; é, antes, para que se cumpra a Escritura: Aquele que come do meu pão levantou contra mim seu calcanhar.
19  Desde já vos digo, antes que aconteça, para que, quando acontecer, creiais que EU SOU.
20  Em verdade, em verdade vos digo: quem recebe aquele que eu enviar, a mim me recebe; e quem me recebe recebe aquele que me enviou.
21  Ditas estas coisas, angustiou-se Jesus em espírito e afirmou: Em verdade, em verdade vos digo que um dentre vós me trairá.
22  Então, os discípulos olharam uns para os outros, sem saber a quem ele se referia.
23  Ora, ali estava conchegado a Jesus um dos seus discípulos, aquele a quem ele amava;
24  a esse fez Simão Pedro sinal, dizendo-lhe: Pergunta a quem ele se refere.
25  Então, aquele discípulo, reclinando-se sobre o peito de Jesus, perguntou-lhe: Senhor, quem é?
26  Respondeu Jesus: É aquele a quem eu der o pedaço de pão molhado. Tomou, pois, um pedaço de pão e, tendo-o molhado, deu-o a Judas, filho de Simão Iscariotes.
27  E, após o bocado, imediatamente, entrou nele Satanás. Então, disse Jesus: O que pretendes fazer, faze-o depressa.

Como vimos nestes textos, Judas Iscariotes participou sim da Santa Ceia!

Então assim como Judas Iscariotes, todos podem participar da Ceia do Senhor?


Não! Vamos com calma! É importante que se diga que, embora isto tenha acontecido com o conhecimento e o consentimento do Senhor; todavia, ocorreu sem que os demais discípulos houvessem entendido que ele seria o traidor, mesmo que Jesus os tenha alertado.

Devemos nos lembrar que a traição de Judas ainda não havia se consumado, e só Jesus podia saber com certeza, pois Cristo é o Deus Filho!

Algo assim pode ocorrer em nossos dias, de alguém tomar a Santa Ceia de forma indigna, sem que a Igreja saiba de seu pecado.

Para evitar isto o apóstolo Paulo escreveu, ensinando sobre a Ceia e apelando para a consciência de cada um:

23 Porque eu recebi do Senhor o que também vos entreguei: que o Senhor Jesus, na noite em que foi traído, tomou o pão;
24  e, tendo dado graças, o partiu e disse: Isto é o meu corpo, que é dado por vós; fazei isto em memória de mim.
25  Por semelhante modo, depois de haver ceado, tomou também o cálice, dizendo: Este cálice é a nova aliança no meu sangue; fazei isto, todas as vezes que o beberdes, em memória de mim.
26  Porque, todas as vezes que comerdes este pão e beberdes o cálice, anunciais a morte do Senhor, até que ele venha.
27  Por isso, aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor, indignamente, será réu do corpo e do sangue do Senhor.
28  Examine-se, pois, o homem a si mesmo, e, assim, coma do pão, e beba do cálice;
29  pois quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si.
30  Eis a razão por que há entre vós muitos fracos e doentes e não poucos que dormem.
31  Porque, se nos julgássemos a nós mesmos, não seríamos julgados.
32  Mas, quando julgados, somos disciplinados pelo Senhor, para não sermos condenados com o mundo.

Perceba a relação que há entre a Santa Ceia e a traição de Judas (na noite em que foi traído), demonstrada nas expressões “aquele que comer ou beber o cálice do Senhor indignamente é réu do corpo e do sangue do Senhor” e  “quem come e bebe sem discernir o corpo, come e bebe juízo para si”. Sim, todo aquele que conhecendo o Senhor, deliberadamente vive em pecado, não se importando sequer com a consagração exigidas especialmente na Santa Ceia, age como um Judas, trai o Senhor que morreu para salvar os pecadores!
Veja bem, embora isto seja assim, não deve ser encarado como motivo para o crente abandonar a prática do sacramento e sim para abandonar o pecado que o impede de tomá-lo. Pois, como preceitua a nossa Confissão de Fé de Westminster, em seu capítulo XXII, acerca do sacramento da Santa Ceia:

VIII. Ainda que os ignorantes e os ímpios recebam os elementos visíveis deste sacramento, não
recebem a coisa por eles significada, mas, pela sua indigna participação, tornam-se réus do corpo e
do sangue do Senhor para a sua própria condenação; portanto eles como são indignos de gozar
comunhão com o Senhor, são também indignos da sua mesa, e não podem, sem grande pecado
contra Cristo, participar destes santos mistérios nem a eles ser admitidos, enquanto permanecerem
nesse estado.
Ref. I Cor. 11:27, 29, e 10:21; II Cor. 6:14-16; I Cor. 5:6-7, 13; II Tess. 3:6, 14-15; Mat. 7:6.


Entendemos que Paulo apela à consciência do crente naquilo em que apenas ele ou poucos sabem sobre seu pecado para que NÃO TOME A CEIA INDIGNAMENTE. Contudo, quando este pecado é do conhecimento da igreja e passível de disciplina eclesiástica, cabe aos pastores e presbíteros afastar o irmão rebelde, para que não tome a louca atitude de ofender a Cristo com sua participação na Ceia, sem ter a sua vida restaurada segundo a Palavra de Deus!

Confira: 

2 Coríntios 2.
5  Ora, se alguém causou tristeza, não o fez apenas a mim, mas, para que eu não seja demasiadamente áspero, digo que em parte a todos vós;
6  basta-lhe a punição pela maioria.

1 Timóteo 5.
20  Quanto aos que vivem no pecado, repreende-os na presença de todos, para que também os demais temam.

Tito 3.
10  Evita o homem faccioso, depois de admoestá-lo primeira e segunda vez,
11  pois sabes que tal pessoa está pervertida, e vive pecando, e por si mesma está condenada.

Romanos 16.
17 ¶ Rogo-vos, irmãos, que noteis bem aqueles que provocam divisões e escândalos, em desacordo com a doutrina que aprendestes; afastai-vos deles,
18  porque esses tais não servem a Cristo, nosso Senhor, e sim a seu próprio ventre; e, com suaves palavras e lisonjas, enganam o coração dos incautos.

2 João 9.
9  Todo aquele que ultrapassa a doutrina de Cristo e nela não permanece não tem Deus; o que permanece na doutrina, esse tem tanto o Pai como o Filho.
10 Se alguém vem ter convosco e não traz esta doutrina, não o recebais em casa, nem lhe deis as boas-vindas.
11  Porquanto aquele que lhe dá boas-vindas faz-se cúmplice das suas obras más.

Na história da Igreja Cristã, temos o exemplo do apóstolo João, contado por seu discípulo Policarpo por volta de 130 dC e preservado por Irineu, que demonstra o zelo do apóstolo em sair às pressas de um banheiro público, para evitar a companhia de Cerinto, o herege.  

Assim, respondo à pergunta reconhecendo que não podemos afirmar, sem sombra de dúvidas, o que pensava o Nosso Senhor ao permitir a participação de Judas Iscariotes na Santa Ceia, mas inferir que serviu ele de modelo a tantos quantos mantém uma vida secreta de pecados, mesmo dentro da Igreja, participando dos cultos e dos sacramentos do Batismo e da Santa Ceia, alertando para o triste fim reservado para tal proceder.

E isto, de modo algum, excetua a liderança da Igreja de zelar pela fidelidade, pureza e ordem da Casa e do povo de Deus, mediante os meios e processos adequados à Escritura Sagrada!

Em Cristo,

Pr, Sandro Márcio

PS. Para melhor compreensão da Disciplina Eclesiástica na Igreja Presbiteriana do Brasil, insiro aqui os três primeiros capítulos de nosso Código de Disciplina:

CÓDIGO DE DISCIPLINA - CAPÍTULO I - NATUREZA E FINALIDADE - Art.1º - A Igreja reconhece o foro íntimo da consciência, que escapa à sua jurisdição, e da qual só Deus é Juiz; mas reconhece também o foro externo que está sujeito à sua vigilância e observação. Art.2º - Disciplina eclesiástica é o exercício da jurisdição espiritual da Igreja sobre seus membros, aplicada de acordo com a Palavra de Deus.
Parágrafo Único - Toda disciplina visa edificar o povo de Deus, corrigir escândalos, erros ou faltas, promover a honra de Deus, a glória de Nosso Senhor Jesus Cristo e o próprio bem dos culpados. Art.3º - Os membros não-comungantes e outros menores, sob a guarda de pessoas crentes, recebem os cuidados espirituais da Igreja, mas ficam sob a responsabilidade direta e imediata das referidas pessoas, que devem zelar por sua vida física, intelectual, moral e espiritual.
CAPÍTULO II - FALTAS - Art.4º - Falta é tudo que, na doutrina e prática dos membros e concílios da Igreja, não esteja de conformidade com os ensinos da Sagrada Escritura, ou transgrida e prejudique a paz, a unidade, a pureza, a ordem e a boa administração da comunidade cristã. Parágrafo Único - Nenhum tribunal eclesiástico poderá considerar como falta, ou admitir como matéria de acusação aquilo que não possa ser provado como tal pela Escritura, segundo a interpretação dos Símbolos da Igreja (Cons., Art.1º). Art.5º - A omissão dos deveres constantes do Art.3º constitui falta passível de pena. Art.6º - As faltas são de ação ou de omissão, isto é, a prática de atos pecaminosos ou a abstenção de deveres cristãos; ou, ainda, a situação ilícita. Parágrafo Único - As faltas são pessoais se atingem a indivíduos; gerais, se atingem a coletividade; públicas, se fazem notórias; veladas quando desconhecidas da comunidade. Art.7º - Os concílios incidem em falta quando: a) tomam qualquer decisão doutrinária ou constitucional que flagrantemente aberra dos princípios fundamentais adotados pela Igreja; b) procedem com evidente injustiça, desrespeitando disposição processual de importância, ou aplicando pena em manifesta desproporção com a falta; c) são deliberadamente contumazes, na desobediência às observações que, sem caráter disciplinar, o Concílio superior fizer no exame periódico do livro de atas; d) se tornam dessidiosos no cumprimento de seus deveres, comprometendo o prestígio da Igreja ou a boa ordem do trabalho; e) adotam qualquer medida comprometedora da paz, unidade, pureza e progresso da Igreja.
CAPÍTULO III - PENALIDADES - Art.8º - Não haverá pena, sem que haja sentença eclesiástica, proferida por um Concílio competente, após processo regular. Art.9º - Os Concílios só podem aplicar a pena de:
a) Admoestação, que consiste em chamar à ordem o culpado, verbalmente ou por escrito, de modo reservado, exortando-o a corrigir-se; b) Afastamento, que em referência aos membros da Igreja, consiste em serem impedidos de comunhão; em referência, porém, aos oficiais consiste em serem impedidos do exercício do seu ofício e, se for o caso, da comunhão da Igreja. O afastamento deve dar-se quando o crédito da religião, a honra de Cristo e o bem do faltoso o exigem, mesmo depois de ter dado satisfação ao tribunal. Aplica-se por tempo indeterminado, até o faltoso dar prova do seu arrependimento, ou até que a sua conduta mostre a necessidade de lhe ser imposta outra pena mais severa; c) Exclusão, que consiste em eliminar o faltoso da comunhão da Igreja. Esta pena só pode ser imposta quando o faltoso se mostra incorrigível e contumaz;
d) Deposição é a destituição de ministro, presbítero ou diácono de seu ofício. Art.10 - Os Concílios superiores só podem aplicar aos inferiores as seguintes penas: repreensão, interdição e dissolução; a) Repreensão é a reprovação formal de faltas ou irregularidades com ordem terminante de serem corrigidas; b) Interdição é a pena que determina a privação temporária das atividades do Concílio; c) Dissolução é a pena que extingue o Concílio. § 1º - No caso de interdição ou disso interdição ou dissolução do Conselho ou Presbitério deverá haver recurso de ofício para o Concílio imediatamente superior. § 2º - As penas aplicadas a um Concílio não atingem individualmente seus membros, cuja responsabilidade pessoal poderá ser apurada pelos Concílios competentes. § 3º - É facultado a qualquer dos membros do Concílio interditado ou dissolvido recorrer da decisão para o Concílio imediatamente superior àquele que proferiu a sentença. Art.11 - Aplicadas as penas previstas nas alíneas “b” e “c” do Artigo anterior, o Concílio superior, por sua Comissão Executiva, tomará as necessárias providências para o prosseguimento dos trabalhos afetos ao Concílio disciplinado. Art.12 – No julgamento dos Concílios, devem ser observadas no que lhes for aplicável, as disposições gerais do processo adotadas nesta Constituição. Art.13 - As penas devem ser proporcionais às faltas, atendendo-se, não obstante, às circunstâncias atenuantes e agravantes, a juízo do tribunal, bem como à graduação estabelecida nos Artigos 9 e 10. § 1º - São atenuantes: a) pouca experiência religiosa; b) relativa ignorância das doutrinas evangélicas; c) influência do meio; d) bom comportamento anterior; e) assiduidade nos serviços divinos; f) colaboração nas atividades da Igreja; g) humildade; h) desejo manifesto de corrigir-se; i) ausência de más intenções; j) confissão voluntária. § 2º - São agravantes: a) experiência religiosa; b) relativo conhecimento das doutrinas evangélicas; c) boa influência do meio; d) maus precedentes; e) ausência aos cultos; f) arrogância e desobediência; g) não reconhecimento da falta. Art.14 - Os Concílios devem dar ciência aos culpados das penas impostas: a) Por faltas veladas, perante o tribunal ou em particular; b) Por faltas públicas, casos em que, além da ciência pessoal, dar-se-á conhecimento à Igreja. Parágrafo Único - No caso de disciplina de ministro dar-se-á, também, imediata ciência da pena à Secretaria Executiva do Supremo
Concílio. Art.15 - Toda e qualquer pena deve ser aplicada com prudência, discrição e caridade, a fim de despertar arrependimento no culpado e simpatia da Igreja. Art.16 - Nenhuma sentença será proferida sem que tenha sido assegurado ao acusado o direito de defender-se. Parágrafo Único - Quando forem graves e notórios os fatos articulados contra o acusado, poderá ele, preventivamente, a juízo do tribunal, ser afastado dos privilégios da Igreja e, tratando-se de oficial, também do exercício do cargo, até que se apure definitivamente a verdade. Art.17 - Só se poderá instaurar processo dentro do período de um ano a contar da ciência da falta. Parágrafo Único - Após dois anos da ocorrência da falta, em hipótese alguma se instaurará processo.